sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dançando ...


A saudade me emprestou a sua companhia. A saudade me estendeu a mão, encarou-me fixa, num ritmo delicado, e me propôs para dançar. Pensei seriamente em recusá-la, pensei em dizer um não, um não, friamente um não, mas ao olhar fundo, percebi que não era uma escolha, tratava-se de uma ordem. Se eu recusasse teria sérios problemas. Então, eu peguei a saudade e comecei a dançar com ela. No começo, não nos acertamos bem: ela pisava nos meus pés, não tínhamos o mesmo ritmo, onde ela era lenta demais e eu mais avançada. No começo, começou a me doer, a me dar sérios problemas, a me machucar. Éramos de mundos diferentes. Eu queria sentir a saudade, ou melhor, queria sentir as lembranças que me faziam sentir a saudade, mas queria ela presente, num agora próximo, mas elas insistiam em mexer seus dois pés em direção contrária e ficar num passado. Tive vontade de desistir. De ficar sozinha. De ser sozinha. De ser solidão. De ficar solidão. De esvaziar de alguma forma, encarar bruscamente, e seguir em frente, sem aspas. Mas preferi, veja só, ficar num devaneio, onde aquilo que me faz ficar triste, ainda assim, mesmo que me faça ficar triste, é o mesmo motivo, a qual por isso não me recuso, é mesmo motivo que me deixa feliz. Se é preciso acompanhar os mesmos passos que a saudade, tudo bem. Eu sorrio, quase agradecida. Por conseguir me fazer tão infeliz e feliz ao mesmo tempo. Se és o grande motivo das minhas lágrimas tão inseguras que não acham por onde fazer um rio, és o motivo dos sorrisos seguros que me fazem nadar dentro desse devaneio, de fantasia, de loucura, de sonho, de imagens – de saudade. És o motivo para um dia de chuva, mas és o motivo para abrir as janelas e sentir o cheiro de chuva. És o motivo do sol que queima, mas do sol que ilumina. És o motivo para as minhas canções que dizem sobre a poesia que insisto em acreditar, e além das canções, faz parte dos meus colchões que me deito, e tanto não tenho sono, mas sonho. E és além das canções e dos colchões, ilusões, que eu insisto em dançar, em me obrigar a ir no ritmo, porque habita a saudade, essa companhia sua, que prefere lembrar do que fingir esquecer. O sorriso que dei quando te conheci continua aqui. O sorriso que dei quando não vou te deixar ir continua aqui. Não importa se é devaneio, eu me proponho a dançar com as lembranças, se elas te trazem pra perto de mim. Eu me proponho a dançar com as lembranças, se com a saudade eu conseguir a tua companhia. Sabe, não importa, porque de todos os males que você poderia me trazer, a ausência se tornou presença. Eu me vejo fazendo as malas, como das tantas outras vezes, e mesmo parecendo que vou te encontrar, sempre acabo te perdendo. Te perdendo pra um dia nublado que você prefere ficar em casa por medo de chover. Te perdendo, pelo cansaço do trabalho que você sente e prefere descansar. Te perdendo pra um dia de sol, por medo de se queimar. Te perdendo pra uma folha de jornal que diz notícias horrorosas, enquanto pela manhã, eu podia te recitar poesia. Te perdendo para pessoas iguais, que só pensam em seguir em frente, sem passar pelo corredor, que podem trazer grandes quadros. Te perdendo pra um sono atrasado, enquanto o que está em atraso são nossos beijos. Te perdendo pra um dia comum, enquanto eu poderia te levar ao parque e te lembrar de como é bonito caminhar a beira do rio. Te perdendo, pra um monte de refeição certinha, enquanto, poderíamos estar comendo pizza com a mão em cima da cama, e depois comendo o pote de sorvete de colher. Te perdendo pra essas pessoas de caras sérias e assuntos chatos. Te perdendo de fazer tu se sentir feliz de verdade, e não somente alegre porque foi visitar o mar. Enquanto, eu vou te perdendo, todos os dias, pro seu chuveiro, pra nova roupa que você comprou, pros seus dias atolados de trabalho, pras suas folgas na praia com seus amigos, pro seu sono atrasado, que você só consegue compensar no seu domingo de folga. Te perdendo pro seu stress da segunda feira, num atraso as sete e meia da manhã, onde eu poderia te mandar uma mensagem para modificar seu dia. Te perdendo pro seu sorriso, enquanto ele pode significar felicidade. Te perdendo, pra todas as coisas que você diz ser tão importante, e que em hipótese alguma eu te faria deixar, eu só te acrescentaria e faria parte nisso tudo. Te perdendo pra todas essas coisas que não chegam a ser inúteis, mas são básicas, enquanto você poderia perder esse medo absurdo de me procurar, enquanto você poderia perder o medo que tem de só falar pra saudade ir embora, que agora quem toma o lugar, é o motivo da saudade. Eu me vejo perdendo ao conseguir tentar fazer você perder as minhas fantasias, que poderiam ser muito mais que suas, mas nossas. E me vejo perdendo, porque eu sempre vou perder, seja fraqueza, seja força, eu sempre vou perder se for pra desistir da tentativa de te ter só para mim.